Recebi uma imagem perturbadora, mas emblemática, de uma cena ocorrida na UPA de Marataízes. A foto, enviada por um leitor, mostra uma suposta servidora de plantão, em uma situação, no mínimo, curiosa: pernas para cima, repousando confortavelmente sobre a mesa de atendimento, celular em punho, em pleno exercício de suas funções.
Mas quem somos nós para julgar? Talvez, após longas horas em pé, circulando pelos corredores abarrotados de emergências, a pobre servidora tenha seguido uma recomendação médica. Sim, amigos, pernas para o alto para melhorar a circulação. Afinal, todos sabemos que a crise na saúde não se limita a falta de médicos ou remédios – chega também às panturrilhas cansadas dos profissionais de plantão. Deveríamos, na verdade, agradecê-la por seu esforço!
E o celular nas mãos? Ora, mais um gesto de comprometimento. Quem sabe não estava atualizando a lista de pacientes atendidos ou respondendo às urgentes mensagens da recepção? A tecnologia está aí para facilitar o trabalho, não é mesmo? Nada de Instagram ou redes sociais, é claro. Somente os dados essenciais para garantir que o colapso iminente da saúde pública fosse administrado da melhor forma possível.
Enquanto isso, do lado de fora, a população luta. Benefícios básicos, como as cestas de alimentos e o Vale Feira, estão sendo cortados. A ambulância? Está prestes a desaparecer. Remédios? Quem precisa, afinal? A saúde de Marataízes vai tão bem que talvez em breve nos deem a dica de manter as pernas para cima também, não para relaxar, mas porque os sapatos estão se desgastando de tanto correr atrás de atendimento inexistente.
E não podemos esquecer da brilhante gestão municipal que, com um orçamento de R$ 427 milhões, conseguiu a proeza de exonerar 70 servidores em plena terça-feira. Ah, mas calma, isso é só um ajuste. Afinal, a saúde, segundo o secretário, segue funcionando como um relógio – um relógio quebrado, talvez. E quando questionado sobre a falta de médicos e a suspensão de serviços, ele nos tranquiliza: tudo está sob controle. O que nos resta, senão confiar?
A ironia cruel é que, enquanto a população protesta nas ruas, os serviços essenciais entram em colapso, e mães se desesperam por tratamentos médicos que não chegam, temos de ver cenas como a da servidora descansando. Será que as soluções para a crise de Marataízes estão realmente ao alcance de um simples toque no celular?
O caos na saúde pública parece ser algo a ser administrado com as pernas para o alto. Se esse for o futuro que nos espera, sugiro que a população comece a praticar também. Quem sabe assim, deitada e conectada, encontramos a cura para os males que nos afligem – ao menos até o próximo corte de verbas.
(DA REDAÇÃO \\ Guto Gutemberg)
(INF.\FONTE: Fabiano Peixoto \\ Capixaba News)
(FT.\CRÉD.: Internet \\ Divulgação)